Lennys Rivera (WWF): "Sem natureza, é muito difícil alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável."

Julen Suescun
Sevilha, 7 de junho (EFEVerde). Alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável é uma tarefa complexa se a natureza e suas necessidades não forem levadas em consideração. Lennys Rivera, especialista do WWF, também acredita que a estabilidade dos ecossistemas, a biodiversidade e o equilíbrio climático são a base essencial para objetivos tão amplos como o combate à pobreza, o acesso à água e a segurança alimentar.
Este foi um dos temas discutidos na Quarta Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento (FFD4), em Sevilha, que reuniu líderes políticos, organizações internacionais, instituições financeiras e organizações da sociedade civil para repensar o sistema financeiro global em um momento crucial. O encontro buscou liberar os recursos necessários para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e enfrentar a tríplice crise global: climática, ecológica e social.
Da WWF Espanha, uma das vozes presentes nesta cúpula, Lennys Rivera Albarracín, participou com uma mensagem clara de que o financiamento para o desenvolvimento não pode ser separado da proteção da natureza. Rivera é técnica do Programa Clima e Energia da organização, onde trabalha para promover projetos que alinhem o setor financeiro a uma economia de zero emissões líquidas e positiva para a natureza.
Doutor em Relações Internacionais pela Universidade Complutense de Madri e ex-diretor de Integração da Organização Latino-Americana de Energia (OLADE), Rivera analisa nesta entrevista os desafios e propostas que o WWF trouxe a Sevilha, os riscos do greenwashing e a necessidade urgente de reformar as regras do jogo econômico para que elas realmente beneficiem as pessoas e o planeta.
Como o WWF chegou a esta quarta Conferência de Financiamento para o Desenvolvimento? Quais eram as suas expectativas para Sevilha?
Viemos com a expectativa de que a natureza fosse integrada transversalmente ao documento, porque a natureza é fundamental para a economia e o desenvolvimento.
Como você vê a atual situação global no financiamento do desenvolvimento?
Acreditamos que, dez anos depois, este encontro é crucial em um contexto marcado pela crise climática, perda de biodiversidade e aumento da desigualdade. As populações que menos contribuíram para esses problemas são as que sofrem os maiores impactos. Acreditamos que uma conferência que aborde soluções reais é altamente relevante.
Você acha que o sistema financeiro atual está preparado para enfrentar a dupla crise climática e de biodiversidade? Quais reformas são fundamentais?
O sistema financeiro precisa reconhecer a relevância e a importância tanto das mudanças climáticas quanto da biodiversidade. Esta agenda aborda questões como dívida e comércio internacional, o que também envolve a discussão sobre governança, tomada de decisões e cooperação internacional. O que consideramos fundamental é que essas reformas levem em consideração a importância do financiamento ter um impacto positivo nas pessoas.
O que você acha de algumas das propostas incluídas no Compromisso de Sevilha?
Reconhecemos que o documento é um passo importante, mas não é ambicioso o suficiente em áreas como a disponibilização de financiamento para a natureza. A natureza não é suficientemente considerada como um foco central, como deveria ser.

A mentalidade em bancos e fundos está mudando para uma descarbonização real ou ainda estamos fazendo greenwashing?
O greenwashing é um risco persistente, e é importante que todos os compromissos sejam traduzidos em ações concretas e direcionados a projetos que tenham um impacto positivo real nos países mais vulneráveis.
Qual o papel dos reguladores e supervisores financeiros na aceleração da transição energética justa?
Eles desempenham um papel muito importante porque, na medida em que conseguem integrar os riscos associados às mudanças climáticas e à perda da natureza, tornam os marcos regulatórios mais favoráveis à transformação que precisamos impulsionar.
Você teme que o "Compromisso de Sevilha" seja diluído pela pressão política ou vê a possibilidade de um progresso real?
Um dos aspectos incluídos é a divulgação de informações sobre sustentabilidade, regulamentação e prestação de contas. No entanto, não há aspectos regulatórios específicos estabelecidos para as cadeias de valor das empresas, o que é crucial. É importante promover ideias como a dupla materialidade, ou seja, quando empresas e instituições financeiras avaliam não apenas como o meio ambiente afeta suas operações, mas também como sua atividade econômica afeta o meio ambiente e a sociedade. É ainda mais importante ter esse tipo de diálogo em paralelo com propostas como o "pacote omnibus", que busca simplificar a regulamentação e a regulamentação financeira e alinhar as metas de sustentabilidade.
Que mensagem você gostaria que os líderes políticos e a sociedade tirassem da Conferência?
Sem a natureza, é muito difícil alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Para garantir direitos e construir economias mais resilientes e sustentáveis, precisamos protegê-la. Também é fundamental reconhecer o papel dos povos indígenas e alternativas como soluções baseadas na natureza.
E no âmbito pessoal, como pesquisadora e mulher latino-americana no mundo energético e financeiro, o que a motiva a continuar nesse caminho?
Cada vez mais pessoas querem um presente e um futuro mais sustentáveis. Poder colocar nosso conhecimento a serviço dessa mudança é importante e necessário. É isso que me motiva: as pessoas, os jovens que querem que as coisas sejam feitas de forma diferente.
efeverde